domingo, 8 de abril de 2012

RELEMBRANDO O SR. JOÃO RICARDO

RELEMBRANDO O SR. JOÃO RICARDO


O Sr. João Ricardo é um grande franciscano que deixou seu nome gravado na história de nossa cidade. Pessoa inteligente, solidária e com grande senso de coletividade, era católico fervoroso e  grande amigo do Padre Inácio tendo atuado como sacristão por muitos anos. Humilde, mesmo  quando prefeito, cargo que exerceu de 1973 a 1976 continuou na função de sacristão.

Fez um governo tranqüilo,  com lisura, equilíbrio e responsabilidade. A grande obra de sua gestão foi a construção do Posto de Saúde Paulo Ricardo. No mais, cuidou da cidade com carinho: educação, saúde, estradas rurais, saneamento, etc. Nenhuma obra faraônica, porém muita eficiência, dedicação e sensibilidade.

Uma de suas paixões era o futebol e seus gritos ecoavam no campo torcendo para o União, sentado no banquinho que levava de casa. Seu bom humor era constante.

Mas seu grande gosto e talento era por obras, a construção civil. Foi o fiel escudeiro do Padre Inácio em todas as obras lideradas por esse valoroso sacerdote: O Colégio, a escadaria, a colocação da laje da matriz e a Igrejinha de Nossa Senhora Aparecida com destaque para o belíssimo telhado que foi enfocado em matéria. João Ricardo foi  o que se pode chamar de “Engenheiro sem diploma”. Sim, porque só lhe faltava o canudo.

Sua habilidade no trato com a madeira era notável, um grande carpinteiro. Mais do que isso, um artesão, artista da madeira.  Fabricante de carros de boi, tonéis e muitas outras coisas. Meu pai, o Juquita Marceneiro dizia que a família Ricardo tem a tradição de trabalhar bem com madeira, e citava o talento do João Ricardo.  

O nosso homenageado era muito amigo de meu pai e praticamente não passava uma semana sem ir na oficina fazer uma visita. Admirava as obras, elogiava e dava palpites. Costumava pegar a pedra de afiar e afiava o canivete que ficava raspando cabelo. Quando meu pai estava pensando em se mudar para Divino devido a uma boa proposta que surgiu naquela cidade, Sr. João veio falar com ele a fim de demovê-lo da idéia. E conseguiu.

A seguir algumas imagens do Sr. João Ricardo retiradas de um vídeo produzido pela filha Lídia Cláudia em homenagem à sua mãe, Dona Rita. A resolução não é das melhores pois não tive acesso às fotos originais:
Sr. João Ricardo e sua Esposa Dona Rita subindo a rampa do Posto de Saúde Paulo Ricardo. Acredito que tenha sido na inauguração.

Sr. João Ricardo recebendo ou entregando um troféu à Dona Rita. Também na foto: Lico, Chico Costa e Ari Pedrosa.

Esse casal construiu uma bela história

COMO NASCEU O JACARÉ

COMO NASCEU O ESPORTE CLUBE JACARÉ
Essa historia de encontro do Jacaré acabou me reavivando a memória de como nasceu esse grupo.
Não me lembro do ano exato em que tudo aconteceu, mas devia ser final da década de oitenta. Uma turma de amigos se reunia para uma pelada no terreno usado para armar circos, touradas e parques, terreno este onde mais tarde seria construída a sede da prefeitura atualmente transformada em escola. O local havia sido ampliado com terraplanagem  justamente para receber a obra da prefeitura. Como no Brasil todo terreno mais ou menos plano vira campo de várzea, com esse aconteceu a mesma coisa.
A pelada que originou a formação do Jacaré acontecia normalmente nos sábados e domingos à tarde. Corríamos bastante dentro dos limites de cada um e depois íamos até a represa nos refrescar no torneirão. Foi nessa época que surgiu o apelido de caruncho para o Ivani, filho do Evandro e primo do Ivan. Ele estava jogando como sempre com muita lentidão e economia de energias, e se a bola fosse lançada 30 cm à sua frente deixava passar e reclamava que o passe fora mal feito. Num momento de irritação, o Adenir da Fia falou: “Esse menino do Evandro tá morto, parece que está sendo comido por caruncho de milho”. Todos caíram na gargalhada e a partir daquele momento passaram a gritar com o Ivanir: “Vai Caruncho, cruza Caruncho, toca Caruncho, sai da banheira Caruncho”. E o apelido pegou.
Foi questão de tempo até que surgisse a idéia de fazer uma partida no estádio municipal e tivemos que escolher o nome do time. Mais uma vez foi a inspiração do Adenir que valeu.  Naquela época havia uma onda como essas que surgem de vez em quando principalmente em cidades pequenas, de dizer que quando alguém estava bêbado, estava abraçado com o Jacaré. Quando alguém falava, por exemplo, “o jacaré pegou o fulano”, era porque o fulano havia tomado  um porre.  Como invariavelmente depois da pelada e do banho no torneirão a gente ia tomar cerveja no Chico do Quito, o Adenir teve a idéia de chamar o nosso time de pré-jacaré, quer dizer, o que antecede à bebedeira.
Nosso primeiro jogo foi contra o AA (Alcoólicos Anônimos) numa ensolarada manhã de domingo. No sábado houve um baile em Vieiras e nós estávamos lá enchendo a cara. Fomos para o campo às 09 horas do domingo num sol de lascar, de ressaca e alguns ainda bêbados jogar contra o AA que estavam sóbrios há muito tempo. O resultado vocês já adivinharam: perdemos feio. O João Gamela ficava tirando sarro da gente: “vocês tem mais é que perder pois estão bêbados, e nós não bebemos”.
Ficamos com o AA atravessado na garganta e marcamos revanche. Resultado: reprise do primeiro jogo, a gente de ressaca, o AA fazendo gol e o Gamela tirando sarro. Insistimos na marcação de jogos com o AA que foi nosso primeiro grande rival, e demorou muito para que os vencêssemos. Foi preciso mudar radicalmente a tática, fomos sóbrios para o campo e deixamos para beber depois do jogo.
Outro rival tradicional daquele princípio foi o V-xame, o time formado pela família do Sr. Italiano.  Lembro-me do Ernesto ainda adolescente com a camisa do V-xame batendo lá na coxa e a manga chegando aos pulsos. E pensar que alguns anos depois ele seria o camisa 10 do Jacaré. Coisas da vida. Mas no inicio a rivalidade entre Jacaré e V-xame foi forte, com direito a bate-bocas entre Caruncho e Sr. Italiano, e de quase todo mundo do Jacaré com o Botonha.  Essa birra somente acabou quando o Toninho e o Botonha voltaram a residir em São Chico, abriram o Baton Bar e viraram integrantes do Jacaré. O Botonha, aliás, foi quem levantou o time que nessa época estava parado, e se tornou dos grandes líderes e incentivador dessa turma. A partir daí o nome do time passou a ser “Esporte Clube Jacaré”.

O TELHADO DA IGREJINHA N. S. APARECIDA

Telhado da Igrejinha Nossa Senhora Aparecida: Obra de arte.
Não há quem não se encante ao ver a estrutura de madeira que sustenta o telhado da Igrejinha Nossa Senhora Aparecida em São Francisco do Glória, uma verdadeira obra de arte da carpintaria. O grande vão feito totalmente livre sem nenhuma coluna central, com linhas belas e criativas é realmente de se admirar. O telhado dá a sensação de flutuar desafiando a gravidade.
Devemos o telhado da igrejinha à iniciativa do saudoso Sr. João Ricardo, ex-prefeito de nossa cidade, amigo pessoal do Pe. Inácio e seu consultor de confiança para as várias obras lideradas pelo pároco franciscano dentre elas o Colégio, escadaria  e a igrejinha N. S. Aparecida.
Querendo dar à igrejinha um telhado à altura de sua importância, algo diferenciado, Sr. João ficou sabendo de uma empresa de carpintaria existente na cidade de Linhares no estado do Espírito Santo que trabalhava em projetos e execução de telhados criativamente elaborados. Convocou então o Mirim (Antônio Almir Biciate) e ambos foram até aquela cidade munidos da planta da igrejinha visitar a tal empresa. Uma vez lá receberam sugestões de modelos de telhados que ficariam bem para a configuração da igreja, sendo que o Sr. João optou pelo modelo que conhecemos, e diga-se de passagem, foi de extremo bom gosto embora desconheçamos as outras sugestões. O projetista da empresa solicitou então que o Sr. João retornasse e  fizesse a medição precisa da construção respeitando critérios que lhe foram passados detalhadamente. Após realizar as medições, Sr. João e Mirim  foram  novamente a Linhares para levar as tais medidas e acertar mais alguns detalhes.
É interessante frisar que até então não havia vindo nenhum funcionário da empresa de carpintaria em São Francisco, toda a medição foi feita pelo Sr. João Ricardo seguindo instruções que lhe foram passadas em Linhares/ES. De posse das medidas a empresa confeccionou as peças do telhado que foram entregues por eles algum tempo depois, todas já cortadas e  polidas em ponto de verniz. Estavam todas numeradas e havia um esquema de como se montar, tal qual um quebra-cabeças.  As pessoas que viram aquele monte de madeira cortada duvidaram que aquilo tudo se transformasse num telhado. Um funcionário da empresa de Linhares permaneceu acompanhando a montagem inicial orientando a colocação das peças mestras. Todo o restante do trabalho foi feito pelo  Sr. João Ricardo auxiliado por um  renomado carpinteiro de  Muriaé contratado da obra cujo nome não conseguimos levantar, o Chico Roriz, o Sílvio Mendonça que era o pedreiro principal da obra e outros ajudantes.  O telhado tomou forma aos poucos e a dúvida passou a ser o que aconteceria quando se tirasse a escora central destinada a sustentar a estrutura durante a montagem. A maioria apostava que tudo ruiria tão logo ela fosse  retirasse. Qual não foi a surpresa ao verem que na medida em que as  peças chamadas tesouras foram sendo colocadas e devidamente fixadas, automaticamente o centro do telhado foi se reforçando e levantando alguns milímetros, o que provocou a liberação espontânea da referida escora que teve somente que ser colocada de lado.
Assim foi construída essa bela obra que enche de orgulho o povo franciscano e ajuda a imortalizar a memória de pessoas queridas como Pe. Inácio e o  Sr. João Ricardo.
Conta-se que  outro conhecido carpinteiro franciscano assistiu toda a montagem do telhado e ficou encantado. Resolveu então construir algo parecido em Barroso, distrito de Carangola, mas nessa obra ao se retirar a escora central o telhado veio abaixo provocando inclusive algumas lesões no carpinteiro felizmente nada grave. O que será que aconteceu? Pequenos detalhes de engenharia e técnica que passam despercebidos, mas que são fundamentais para o conjunto e a segurança da obra. Realmente não é para qualquer um.
Hoje em dia os técnicos, engenheiros e arquitetos trabalham munidos de computadores com programas apropriados que criam imagens tri-dimensionais que mostram o projeto pronto na tela permitindo ensaios de resistência, verificar-se estética e fazer correções precisas. Naquela época não existia todo esse recurso, o que torna mais interessante e admirável uma obra como essa.
A seguir imagens da Igrejinha N. S. Aparecida com destaque para o telhado fotografias de Marcelo Azevedo.
O Centro do telhado com uma especie de coluna suspena.

O centro do telhado novamente
Nos cantos os detalhes combinando.
Detalhe do canto esquerdo
Imagem aproximada mostra a engenhosidade do telhado.
O interior com o altar ao fundo.
A imagem de Nossa Senhora Aparecida
Imgem externa da Igrejinha de Nossa Senhora Aparecida feita em dia chuvoso.
É com satisfação que verificamos que a Igrejinha está muito bem conservada e cuidada. Parabéns ao Padre José de Fátima e aos paroquianos por esse carinho com essa igreja tão cara às nossa memórias. No tempo do Padre Inácio era muito agradável assistir às missas aos domingos às 10:30 horas. Agredecemos aos amigos Sílvio Mendonça, Mirim e Marcelo pelas valorasa contribuições para essa matéria.

TANCREDO NEVES EM SÃO FRANCISCO DO GLÓRIA

TANCREDO NEVES EM SÃO FRANCISCO DO GLÓRIA



Tancredo Neves, 100 anos de história.
João Eduardo Ornelas
21 de abril de 2010, 23:55h.
Estou em casa e acabo de assistir ao documentário “Tancredo Neves, 100 anos de história” na Rede Cultura. Minha memória foi reavivada e voltei àquela época de meus recém completados 20 anos de idade, quando todo o Brasil se emocionou com a morte daquele em quem se depositava as esperanças de um Brasil melhor.
Acompanhei a trajetória de Tancredo Neves desde a anistia política e até mesmo um pouco antes, quando ele foi candidato a senador na época em que havia somente o MDB e a ARENA. Recordo-me de sua fotografia, do carro de som do MDB que algumas vezes foi a São Francisco do Glória e da propaganda no rádio. Na época, eu adolescente fiquei intrigado ao ouvir dizer que Tancredo  fora primeiro-ministro, pois era algo que eu não havia aprendido na escola naquela época de ditadura onde o ensino era todo direcionado a moldar as mentes favoráveis ao governo militar.
Depois, quando veio o inicio da abertura política, Tancredo foi eleito governador do estado com larga vantagem para o principal opositor, o candidato do governo Eliseu Rezende. Foi durante a campanha que aconteceu algo inusitado, Tancredo Neves visitou São Francisco do Glória. Parece-me que ele viria na região onde visitaria Muriaé, Leopoldina, Cataguases, Ubá e outras cidades de destaque. Na última hora consegui-se que ele desse uma breve passada por São Francisco, acredito que vindo de Manhuaçu ou Carangola. Foi tudo muito rápido, ele passaria à tarde e somente pela manhã ficou decidido. O carro de propaganda do PMDB saiu às ruas e em vez da mensagem gravada, a voz do Jair Biciate que ao microfone convidava para a visita do “futuro governador de Minas Gerais”.
A política franciscana era dominada pelo PDS que com mãos de ferro mantinha os correligionários sob rígida disciplina. Uma saída à rua para ver e ouvir o candidato da oposição poderia ser interpretado como um gesto de infidelidade, provocar desconfianças e possíveis retaliações por parte dos caciques. Poucos se atreveriam.   Apesar da curiosidade, somente algumas pessoas saíram às ruas para receber o ilustre visitante, outros no máximo arriscavam olhar timidamente pelas janelas. Tancredo deu uma volta pela cidade acenando para as pessoas numa carreata composta por poucos carros, deu a volta na praça, uma breve parada e foi embora. A cidade não fazia idéia de que ali estava aquele que lideraria a transição para a democracia em nosso país e com seu talento conciliador conseguiria ser eleito Presidente do Brasil no colégio eleitoral derrotando o poderoso regime militar.
Caso tivesse se formado um grupo de pessoas para recebê-lo, ele desceria e falaria algumas palavras aos franciscanos, mas como não tinha ninguém, limitou-se a cumprimentar as lideranças locais do PMDB e foi embora. Nenhuma gravação, nenhuma fotografia sequer. A imagem que tenho na mente é a de um homem baixinho, afundado na poltrona de um Monza  acenando pela janela para as poucos moradores que ousavam chegar nas calçadas, portas e janelas. Eu estava com algumas pessoas na esquina do Sr.  Ari Pedrosa, e quando pensávamos em ir ou não à Praça para ver um possível mini-comicio, o monza veio voltando levando o pequeno-grande homem para conquistar terras maiores e com eleitores mais corajosos.
Essa visita serviu de chacota. Alguns dias antes, estando alguns franciscanos reunidos à noite em grupinhos na praça com era e ainda é costume, eis que surge um gambá passeando pela rua. O pobre do bicho foi descoberto e começou a perseguição e a gritaria. Todos tentavam acertar o bichinho com pedras ou chutes e juntou-se gente de todos os lados, algo em torno de cem pessoas que farrearam linchando o aterrorizado e fedorento animalzinho. Quando por fim o pobre foi abatido, a pequena multidão vibrou alucinada. Pois bem, depois da malfadada visita do futuro governador das Minas Gerais, dizia-se que teve mais gente no enterro do gambá que na visita do Tancredo.
Quando Tancredo foi candidato a presidente numa eleição que seria indireta, ele decidiu fazer campanha com o povo como se fosse eleição direta. O país estava frustrado pela rejeição da emenda das “Diretas Já”, e os comícios de Tancredo eram um alento para a população. Era maravilhoso ouvir seus discursos, Tancredo era um grande orador, falava de forma elegante, às vezes até poética, porém perfeitamente inteligível. Quando ele foi hospitalizado e não pode tomar posse,  a consternação foi geral, e a torcida pela sua recuperação foi imensa. Mas seu estado foi piorando e no final já se dizia que o estavam mantendo vivo somente para que morresse no dia da inconfidência mineira, o 21 de abril. E coincidência ou não, foi o que de fato aconteceu.
Nesse  dia, 21 de abril de 1985 o Esporte Clube Jacaré jogava em Dores do Rio Preto, divisa de Minas com Espírito Santo. Essa data foi marcante para todos nós. Jogamos contra o bom time da cidade e fomos humilhados em campo e pela torcida. Não vimos a cor da bola e perdemos por 7 X O. Usamos o belo uniforme do V-xame, e dessa vez para fazer jus ao nome, foi um verdadeiro vexame. Depois do jogo estávamos todos enchendo a cara no bar do Carlinhos da Elenice Borges, nosso anfitrião, quando soubemos da morte do Tancredo. A tristeza foi geral e alguns choraram despistadamente. Parecia ficção, mas era verdade: a grande esperança do povo brasileiro havia morrido. E depois acompanhar o velório e o sepultamento pela televisão, não houve quem não se emocionasse.
Muitos anos depois visitei o Memorial Tancredo Neves em São João Del Rey. As emoções voltaram todas, mesmo porque a visitação ao memorial é feita ao som de memoráveis discursos do grande político. Frases que marcaram sua trajetória são repetidas, e nos remete novamente para o ano de 1985, como aliás aconteceu comigo agora ao assistir ao documentário. Frases do tipo:
“Liberdade é o outro nome de Minas”.
“Essa é a ultima eleição indireta do país”.
“Não pode haver democracia sem liberdade, e não há liberdade quando se tem o medo de ousar construir um futuro melhor”.
E pensar que esse grande mineiro, esse paladino da liberdade e da democracia, esteve um dia em São Francisco do Glória. 

IGREJA MATRIZ SÃO FRANCISCO DE ASSIS

A igreja matriz de São Francisco de Assis, da cidade de São Francisco do Glória, é uma das belas edificações da Zona da Mata mineira. É sem dúvidas o principal cartão postal da cidade e digna de ser visitada.
O Ailton Biciate um dia desses me chamou a atenção de que essa igreja é a única com duas torres existente na região. Passei a observar e vi que de fato somente nas cidades histórias de Minas, Ouro Preto, Mariana, e São João Del Rei e outras, que vemos igrejas com duas torres.
Interessado no assunto empreendi uma  pesquisa rápida tentando descobrir  qual o estilo arquitetônico que pode ser encontrado na igreja matriz de São Francisco do Glória, e identifiquei dois principais. Quero frisar que não entendo de arquitetura e que minha pesquisa foi feita superficialmente, não enviei fotos para nenhum especialista, e posso estar equivocado em minhas analises e não terei o menor problema em reconhecer, bastando que surjam informações com conhecimento de causa. Ao contrário ficarei satisfeito se nossa igreja for estudada e catalogada por especialistas, figurando assim  entre as belas edificações de nosso estado.
Pelo que pude apurar, há fortes características do estilo gótico nessa bela obra. São eles: existência de uma nave central mais larga e mais alta, e duas naves laterais mais estreitas. Lembrando que segundo o dicionário Aurélio, nave é Espaço, na igreja, desde a entrada até o santuário, ou o que fica entre fileiras de colunas que sustentam a abóbada. Outra característica do estilo gótico presente é as paredes laterais perfuradas por janelas altas arredondadas no alto  em ogival. E uma terceira característica gótica encontrada na matriz São Francisco de Assis são os vitrais decorados.
Quantos às duas torres idênticas  penso ser uma característica do barroco. As igrejas assim construídas na antiguidade às vezes eram chamadas de igrejas-prisão pelo fato de as duas torres idênticas lembrarem os fortes e presídios com suas guaritas de sentinelas. As igrejas no estilo gótico costumam ter mais de uma torre, mas nem sempre são idênticas e/ou são mais de duas. Salvo engano uma forte característica do barroco são os detalhes idênticos e espelhados de ambos os lados. Quer dizer, se tiver três colunas do um lado, tem que ter três colunas idênticas do outro, o que vale para todos os detalhes. A grande obra do barroco mineiro, a igreja de São Francisco de Assis em Outro Preto, obra do inigualável Aleijadinho tem as duas torres idênticas, bem como a igreja de Bom Jesus do Matozinho em Congonhas também feita pelo genial artista mineiro.
Pergunta inevitável: como essa igreja foi planejada? Quem foi seu arquiteto? Penso que foi feita de forma intuitiva copiando detalhes de outras igrejas existentes, por isso a diversidade de estilos. A igreja anterior possuía duas torres, e talvez por tradição manteve-se essa característica. Ou talvez, tendo em vista nosso padroeiro ser São Francisco de Assis, copiou-se esse detalhe da igreja de Ouro Preto, também dedicada ao santo.
Pode ser que outros estilos estejam  presentes em nossa igreja, mas acho que esses dois são os principais, e que aliás estão presente na maioria das igrejas.
A nave central maior e duas naves laterais. O interior é belo, mas a pintura que havia antes da colocação da laje era magnífica. O Padre Inácio comentou que iria fotografar o interior antes das obras para depois tentar reproduzir de forma identica ou semelhante. Ficou muito diferente, mais pobre em detalhes, apesar de belo. Fica a pergunta: será que o Padre Inácio providenciou para que as fotos fossem tiradas. Acredito que sim, pois ele era muito cuidadoso com tudo. Onde estarão essas fotos? Seria maravilhos encontrá-las, um registro importantíssimo. 
Janelas e portas em ogival
As fotos acima são de autoria de Sgtrangel, extraídas do panoramio.com

ABELHAS FURIOSAS

Abelhas Furiosas
Vou contar para vocês um episódio onde eu, o Eraldo, um primo dele que não me lembro o nome e que estava passando uns tempos lá e o Vasco que morava na casa da dona Leila, descobri um cupim com um enxame de abelhas no pasto perto da caixa dagua, esta descoberta se deu quando eu estava procurando cupim branco ou com asas já formadas para pescar lambari, isto foi logo pela manhã porque nós saíamos da cama cedo para aproveitar o máximo possível do dia. Como esta empreitada não era só para um, fui logo procurando quem estivesse disponível para esta aventura, e como estava próximo a casa do Eraldo, chamei por ele e começamos a traçar os planos, e neste meio tempo chegaram os outros personagens. Aquela peleja estava se arrastando toda a manhã e já começava a parte da tarde, não me lembro bem se preocupamos em almoçar, o nosso objetivo era um só, abrir aquele cupinzeiro e retirar o mel que imaginávamos ter ali, favos recheados do mais puro néctar, doce e dourado, uma jóia.
Usando de todos os artifícios que tínhamos nas mãos, a única coisa que conseguíamos era enraivecer as pobres abelhas, a todo momento em revezamento um ia e cutucava o cupim tentando quebrar. Como estávamos ao alcance dos chamados de nossas mães ninguém se preocupava em ver o que aqueles peraltas estavam a fazer, parecia tudo sobre controle para elas, como não se pensava em outra coisa não vimos quando subiram para a caixa dagua uma turma distinta, o sr. Lauzinho, Pe. Inácio, sr. Agenor, sr. Tuim e o sr. Nhonho, era uma espécie de inspeção que foram fazer, assim imagino eu.
Nesta altura da peleja já havíamos perguntado para alguns como se fazia para espantar abelha de buracos, mas discretamente porque já tinha gente demais para dividir o tesouro, uns falavam para colocar fogo em pano na beira do buraco, que com a fumaça elas saiam e fugiam, bom neste vai e vem eu achei uma cavadeira de cabo grande que pertencia ao meu avô, ai eu pensei agora vai dar certo, e o problema envolvendo pirralhos como nós é quando parece que tudo vai dar certo e nem sempre é bem assim. Era mês de agosto e como todos sabemos o vento sopra forte para o lado da dona Amora, ou seja ribeirão abaixo, este vento também era bom para soltar papagaio do adro da igreja e de dar grandes quantidades de linha para ver qual subia mais, hoje não é mais assim, bom isto é uma outra história, e foi ai que aconteceu o primo do Eraldo era um pouco mais forte que nós e usando a cavadeira ele conseguiu quebrar a tampa do cupim, agora era só ir e revirar, então chegou a minha vez de agir, corri até lá e acabei de tirar a tal tampa e o buraco ficou exposto assim como todo o enxame. Foi um grande alvoroço abelhas furiosas para todos os lados, principalmente para o lado da caixa d’agua onde ainda estava o pessoal da tal inspeção com exceção do Pe. Inácio que acabara de descer e estava na porta da barbearia conversando com meu pai, na rua muito já haviam sido ferroados e portas e janelas foram fechadas, mas ninguém sabia de onde vinham as danadas das ferinhas, e nós escondidos em uma vala que existia cortando o pasto esperando a hora em que tudo se acalmaria para saborear o mel.
O sr. Nhonho como sempre fazia tinha acabo de raspar a cabeça com navalha com meu pai, e como sabemos ele tinha um problema na perna, mas como nós iríamos pensar nisto. A verdade é que não se sabe como ele conseguiu chegar tão rápido ou talvez primeiro que os outros lá na rua e ir para dentro de casa, se bem que com muitas ferroadas assim como os outros, o fato é que conversando com tia Paschoalina e sempre com um sorriso matreiro no canto dos lábios, parecendo saber de que era aquela obra, ela disse que gastou bastante linha e pedaços de retalhos para tapar os rombos na retaguarda da calça que ele estava usando, mas de fato é que não se sabe ao certo. Bom como todo feito tem um dono este não poderia ser diferente, a bendita dona Maria do Rosário indo como sempre para a igreja me viu no exato momento em que corri de volta, e assim que terminou a confusão foi direto expor para o meu pai que tinha sido eu que aprontou tudo, como é de se imaginar a nossa criação não teria outro desfecho a minha sorte, uma bela de uma surra, o lucro ainda foi bom porque quando soube que o Pe. Inácio estivera escapado por pouco, não dá nem para pensar se tivesse acontecido algo com ele.
O interessante é que sempre protegíamos uns aos outros e nunca revelei nada quem eram os meus companheiros. Muitos anos se passaram nós já homens formados, um dia em que fui passear em São Chico, como sempre fazia fui visitar sr. Nhonho e entre uma conversa e outra deu a entender que sabia que tinha sido eu o autor daquela arte, mas nunca tocou no assunto, pois acho que no fundo ele tinha um certo orgulho de ter feito a façanha de ser mais rápido que os normais que estavam com ele, grande saudade destes personagens que fizeram parte de nossa infância e sempre nos tratavam com carinho, porque na realidade éramos uma grande família de coração, que Deus os tenha em sua companhia. Para terminar “NÃO HAVIA UMA GOTA DE MEL NAQUELE CUPIM”.
Por: Jonatas do João barbeiro

COMO TUDO COMEÇOU

COMO TUDO COMEÇOU

João Eduardo Ornelas

É manha de uma segunda-feira, mês de maio (?) no ano de 1970 e o menino de 5 anos acorda sobressaltado com um barulho forte de motor. Em sua imaginação fértil de criança pensa logo: será que é um avião? Ele bem sabia que a pequena cidade para onde se mudara recentemente não descia avião, mas bem que no espaço que tinha na rua que eles chamavam de Largo, cabia um avião, e dos grandes.

Entre assustado e curioso cutucou o irmão mais velho ainda dormindo na cama ao lado e falou:
--Acorda, sô, escuta que barulhão. Parece até avião.
--Deixa de ser besta que avião não vem aqui não, sô.

Sentindo a apreensão reinante no quarto dos meninos a mãe foi até lá para acalmá-los e ao mesmo tempo satisfazer a curiosidade dos pequenos:
--Não precisa assustar. É uma patrola que a prefeitura arranjou e tá trabalhando lá perto do grupo. Dizem que vão fazer um jardim. Quem me falou foi o tal do Lalau Bahia quando veio trazer o leite (aliás, o leite de hoje tá mais aguado que o de ontem, tá até azulado, uma vergonha). Precisa  mesmo melhorar esse lugar, imagine um capa-bode que não tem nem praça, nunca vi isso. Onde que seu pai tava com a cabeça, enfiar a gente nesse fim de mundo. Espero que seja por pouco tempo.

A família havia se mudado recentemente para a pequena cidade de São Francisco do Glória. O pai, José Alexandre, era marceneiro. Juquita, apelido pelo qual era conhecido, era um profissional com larga experiência no ramo de fabricação de móveis. Mudara-se pra lá a fim de montar seu primeiro negócio próprio e juntamente com um sócio, o Otávio, amigo de longa data estavam fundando a Fábrica de Móveis São Francisco. A esposa Zilda, abnegada dona de casa reclamava quase que por hábito, mas no fundo estava esperançosa e orgulhosa da atitude do marido. A cidade apesar das limitações era acolhedora e os vizinhos hospitaleiros. A mulher estava com gravidez adiantada, e as vizinhas vendo sua situação aproximaram-se solidárias.Os meninos foram bem recebidos e logo fizeram amizade, principalmente o mais velho, Alexandre, mais extrovertido e atirado. O mais novo, João Eduardo, por ser tímido tinha mais dificuldade para se enturmar mas já tinha dois amigos: o Rubinho filho da dona Marta, uma bondosa viúva, e o Pascele, filho mais novo daquela outra vizinha, a Totônia Moreira que tem um bando de filhos levados. Além dessas duas vizinhas, tinha a tal de Gracinha que estava com neném de colo, um menino de nome Ricardo e que se prontificara a ajudar no que fosse preciso. Tinha também a Dona Fia, muito engraçada e extrovertida, mãe do Zé Pedrosa, aquele rapazinho que havia começado a trabalhar na marcenaria. D. Zilda não precisava se preocupar que não faltaria apoio.

Grande parte da apreensão da nova moradora devia-se aos comentários que ouvira sobre a cidade  quando morava na vizinha Miradouro. São Francisco era tido como lugar violento e perigoso, onde se matava por qualquer motivo. Terra de índios, diziam. Além do mais estava com saudades da filha mais velha, Valéria, que ficara com a avó e a tia em Ervália, por insistência dessas sob o pretexto de não prejudicar os estudos da menina. A mãe bem sabia que não era nada disso, era apego das duas com a menina, e apesar de saber que a filha estava em boas mãos, sentia saudades.

A família foi instalada provisoriamente na casa da esquina , bem em frente à prefeitura. O imóvel foi dividido em duas moradas por uma parede de tábuas feita pelos próprios inquilinos. A família do Otávio ocupava a parte de trás, tendo direito ao quintal  e à cozinha da casa. Ao sócio Juquita e sua família coube a parte da frente, menos arejada, cozinha improvisada e não tinha lugar nem para secar roupa. O banheiro estava no meio da casa e era de uso comum, tendo duas portas, uma para cada moradia.

No fundo Zilda estava até satisfeita, pois o que tinha de melhor no lugarejo estava por perto. A farmácia do Sr. Sebastião Dias estava logo ali. O grupo escolar também (breve os meninos iriam precisar) e a igreja, muito bonita por sinal estava a poucos metros. Gostou muito do Padre Inácio que tinha uma fala fácil, agradável e fazia um belo sermão. Muito diferente do estressado Padre Joaquim lá de Ervália que vivia passando pitos nos fieis, e de outros padres de origem estrangeira e fala enrolada a que estava acostumada. Achava  agradável ser acordada todos os dias com a voz do Padre Inácio no alto falante da Matriz lendo um trecho bíblico e fazendo a oração da manha. Na verdade, até aquele momento a cidade e seus moradores tinham demonstrado ser o contrário do que ouvira em Miradouro. “Tomara que seja só boato”, pensou.

Em breve a praça seria construída e os meninos teriam mais um lugar para brincar. A mãe não gostava que eles fossem para o morro da caixa d”água descer chiando na casca de coqueiro pelo pasto abaixo. Apesar de ser perto, achava a brincadeira  perigosa e não era de seu agrado que os meninos sumissem de sua vista por muito tempo. Enfim, com a graça de Deus tudo haveria de se ajeitar.

Mas voltando ao barulho do motor, os meninos levantaram-se, tomaram café com leite e pão sem manteiga (a mãe juntava nata para fazer manteiga caseira, mas com o leite azul do Lalau Bahia, tava difícil) e foram assistir à patrola trabalhar. Seguiram sorrateiros, meio apreensivos e foram chegando a cara na quina do grupo, e maravilhados viram uma enorme máquina amarela, cheia de rodas soltando fumaça para cima e cortando a terra. Outros meninos já estavam lá e se juntaram a eles. Praticamente toda a cidade assistia ao trabalho: o prefeito, os funcionários da prefeitura, o senhor dono da padaria, e até o padre assistia lá do adro. Os meninos ficaram ali o tempo todo, agachados encostados na parede do grupo, perdendo até a noção das horas sendo preciso que a mãe fosse até lá chamar para o almoço.

Mais alguns dias, a patrola foi embora e uma cerca foi levantada cercando o local onde seria construída a praça. Por um longo período vários homens ali trabalharam, e os meninos acompanhavam tudo conversando com os operários, às vezes levando água para matar-lhes a sede. Entre eles Alexandre e João, filhos do casal Zilda e Juquita eram presença certa. Mal sabiam que presenciavam um momento histórico da pequena  cidade, ocasião em que desaparecia o Largo da Matriz, e surgia a Praça São Francisco de Assis. Em junho de 1970 nascia Luciana, a caçula e única franciscana natural. Nasceu em casa mesmo, como os outros filhos, com auxílio de parteira, nesse caso a dona Maria Jerônimo. E assim estava completa a família que sem saber ligava pra sempre seu destino ao da pequenina cidade que escolheram para morar, a principio temporariamente, mas que foram ficando e ficando.

Os meninos cresciam ali, soltos, pés no chão, quase sempre em companhia dos filhos da Totônia Moreira. Faziam todo tipo de estrepolias: brincavam de pique-salva, boleba, tampinha, pegavam rabada nas charretes e carros de boi, etc. Mexiam com a Rita Pamparra, a Marinha Carrinha, Seu Candinho e outras figuras excêntricas do lugar. Outro que era alvo de pilhérias era o Gil do Sebastião Dias. A meninada o chamava de Jiló Margoso e ele furioso corria atrás. Quando tava quase pegando outro dizia: Jiló Margoso. E ele mudava seu alvo de perseguição e a tática se repetia. O Gil acabava ficando exausto sem conseguir pegar ninguém.

Mas nem sempre os meninos tinham coragem de acompanhar os amigos nas artes mais arriscadas. Sabiam do rigor do pai e temiam as conseqüências. Seu Juquita era bem diferente do Seu Joel, pai dos amigos que podiam fazer o diabo a quatro que não tinha o menor problema. Os meninos faziam o absurdo de entrar no boeiro, rastejar pela manilha até o quintal do Seu Olegário para roubar frutas de seu quintal. Conta-se que um dia o Jole, muito grande ficou entalado na manilha com a camisa cheia de laranjas e passou um aperto daqueles. Uma vez eles cortaram o rabo da égua do Inhozinho Guedes que ficava estacionada na cerca do grupo, dizendo que era para a canarinha fazer ninho. O dono do animal ficou muito brabo quis briga e somente se acalmou depois que o Seu Joel pagou o estrago a dinheiro. Outra que os moleques faziam sempre era tirar a cadeira quando as visitas iam sentar para vê-las se esborracharem no chão. Era demais.

E assim eles foram crescendo, estudaram no o grupo, foram para o colégio, tornaram-se adultos, os meninos trabalharam de marceneiro com o pai e se casaram ali mesmo. A cidade entranhou nos poros, na corrente sanguínea dos Tavares Ornelas, e esses por sua vez também impregnaram algo de si mesmos na cidade.

Tanto que um deles, João Eduardo, metido a escrever passou a narrar os fatos, a historia e os causos de São Chico, e deu de publicar numa tal de Internet, acalentando o desejo de um dia, quem sabe, colocar tudo num livro homenageando assim a terra que os adotaram e foi por eles adotada.

E foi assim que tudo começou.