domingo, 8 de abril de 2012

O FORAGIDO

FORAGIDO
João Eduardo Ornelas
Qual franciscano não se lembra Hélio Bombril, filho do Lourenço? Tinha esse nome devido aos atributos de seus cabelos que lembravam (e lembram) a famosa esponja de 1001 utilidadesCertamente se recordam também do episódio em que ele foi preso e fugiu da cadeinha perto docurral do Waldir. Pois bem, ouvi a história completa da boca do próprio Hélio e a quero compartilhar com os meus ilustres leitores.
Helio Bombril sempre foi muito pra frentecomo diz meu paimuito saliente com as mulheres. Nesta ocasiãodentre outras meninas, estava azarando a Aguimar, neta do Seu Geraldo Alfaiateque na verdade era o delegado da cidade. Sabendo do fato, o avô preocupado com a má influencia que o Hélio poderia estar desenvolvendo sobre a neta que sua fama era terrível, e valendo-se de sua posição de autoridade de respeito chamou o rapaz às falas. O diálogo se deu de forma bruscaSeu Geraldo  chegou nervoso, passando descompostura no Hélioque estava defogo. Havia testemunhas, o que acirrou a discussão que nenhum dos dois queria deixar barato. O que o bom senso determinava que fosse uma conversa amigável e equilibrada transformou-se num bate-boca incontrolávelHélio resolveu retirar-se do local antes que as coisas piorassem e depassagem esbarrou sem querer (versão sua) no Sr. Geraldo que caiu no chão.
Rapidamente correu a notícia de que o Helio Bombril havia agredido o Delegado, e este indignado ordenara sua prisão. O  Luiz Soldado que na época estava ainda em São Chico, mandou um recado ao Hélio dizendo da ordem de prisão e aconselhando-o a se ausentar da cidade poralgum tempo.
O vantajoso do Hélio não seguiu o conselho, e acabou sendo preso pelo Cabo Gentil acompanhado do Paraíba. Foi levado para a cadeinha e colocado no xadrez, não sem antes escutar um belo sermão do Cabo Gentil, como de praxe. Helio notou que o cadeado era novo e pequeno para osuporte. Paraíba teve dificuldades para colocá-lo, inclusive comentando que precisariam de um cadeado maior,  que aquele não estava funcionando bem. Quando os policiais se retiraram e fecharam a porta de madeira. Hélio ouviu um estalinho. Sem acreditar direito verificou que o cadeadodevido à pressão, não fora completamente fechado e se abrira naquele momento. 
 veio a duvida: 
---E agora, fujo ou não fujo? Será que deixaram de propósito? Será que é uma armadilha?

De qualquer forma decidiu esperarpensar um pouco antes de tomar a decisãoAlém do mais um grupo de amigos liderados pela Beatafilha do Vindilino ficou de levar um lanche à noiteHélio analisou que se fosse pra fugir, seria melhor fazê-lo depois do lanchar.
Assim ele fez. Tão logo os amigos, que lhe entregaram sanduíche e suco pela janelinha e se foram, abriu a porta, abriu a janela de madeira da outra sala e se mandou. Tomou o rumo da Rua do Pinheiro, passando onde hoje é a Rua Pereira Bahia. Foi parar na casa do Sr. Nenê Pedrosa, paido Teca  na saibreira. Uma vez , contou sua história e pediu proteção. Seu Nenê que tinha uma predisposição natural contra polícia (coisa de gente braba) respondeu-lhe: 
---Meu filho, você veio no lugar certo. Nem o Exército te ranca da minha casa sem a minha ordem.

No outro dia a cidade ficou em polvorosaNinguém comentava outra coisa a não ser a fuga do Hélio Bombril. A polícia, desmoralizada e ofendida fazia diligencias para encontrá-lo, sem contudo obter sucesso. Falava-se pela cidade que o Helio, tal qual o lendário Antonio Bentotinhauma reza braba que abria qualquer fechadura. Dizia-se que havia aprendido a tal reza com o próprio Antonio Bento que fora seu vizinho no Pinheiro.
O dia posterior à fuja, o fugitivo permaneceu na casa do Sr. Nenê. Chegando a noite a família providenciou um carro para tirá-lo da cidade. Hélio passou abaixado no banco de trás para que ninguém o visse. Em Fervedouro tomou um ônibus para Ipatinga, onde mora até hoje. Seguiu com um aperto nocoração, não tanto por medo da polícia ou do que o futuro pudesse lhe reservar, mas por não saber quando e como voltaria à tão querida terrinha, São Chico do Glória. Não tinha idéia de quando iria rever os amigos, e principalmente as amigas de quem sequer se despedira. Entristecido, recostado napoltrona do ônibus, fechava os olhos e via a Aguimar sorridente na sua frente. Não se pode ganhar todas, coisas da vida. 
 

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