FOFOCA NEWS
João Eduardo Ornelas
Em cidades pequenas como São Francisco do Glória, circula um jornal diário, atualizado em tempo real. Não é impresso, é falado. Não é transmitido por nenhuma emissora de rádio ou tv, mas é passado de pessoa a pessoa, ao pé do ouvido, nas rodinhas formadas em locais costumeiros.
Normalmente o que rola são comentários sobre a vida alheia, ou seja, a tradicional fofoca. Quem tá comprando, quem tá vendendo, quem tá quebrando, quem tá comendo quem, e assim por diante. Na maioria das vezes são comentários sem maiores conseqüências, apenas constatações de fatosapesar de aumentados. Afinal quem conta um conto aumenta um ponto, e o povo aumenta mas não inventa. Às vezes quando algum correspondente do Fofoca News chega com um furo de reportagem alguém pergunta:
--Você não está aumentando?
--Não, estou passando pra frente sem lucro.
--Será? Não tá tirando nem o frete?
Não acredito em fofoca inofensiva, mas essa em questão é praticada como se fosse um esporte predileto, coisa de quem não tem programação melhor para fazer, hábito que se transforma em vício. É diferente da intriga, do leva e trás que pode ter conseqüências trágicas. Essa também existe,como em todo lugar, mas são fatos isolados.
Quanto aos locais de reunião são os de sempre: esquinas, botecos, mercearias, farmácias, etc. Um local tradicionalmente usado para colher novidades são os salões de barbearia. Um amigo Policial Federal me confidenciou que quando vai fazer uma investigação secreta em alguma cidade,sempre vai a uma barbearia dar uma aparadinha no cabelo. Não há lugar melhor para se inteirar dos fatos. Neste quesito São Chico está atualmente mal servido. O salão mais freqüentado da cidade é o do Batista do Bahia, pessoa discretíssima, avesso à fofocas, politicamente correto e gente fina pradaná. No máximo ele conta um milagre preservando a identidade do santo, o que mata o cliente de curiosidade obrigando-o a pesquisar noutro lugar. Bons tempos aquele do João Barbeiro, que tão logo a gente se sentava na cadeira ele vinha desfiando o rosário de novidades. Era também um expert empuxar a língua do cliente e colher informações que eram repassadas adiante sem frescuras. Não se faz mais barbeiros como antigamente!
Durante muito tempo freqüentei a esquina do Zé do Oscar. Era muito movimentada sobretudo no horário de almoço. As pessoas se juntavam para a edição diária do Fofoca News. Alguns correspondentes vinham de longe, como o Luluca que se deslocava de sua casa, perto da igreja e marcavapresença todos os dias. Ninguém ousava sair antes dos outros para não ser alvo dos comentários dos demais. Outras pessoas tinham receio de passar em frente ao grupo (ou poderia dizer redação do jornal?) pelo mesmo motivo. Assim quando dava meio dia saiam todos ao mesmo tempo, e quem precisassepassar já estava liberado.
Confesso que tenho saudades daquela época. Não pelas fofocas, mas pela diversão. Atualmente como moro noutra cidade fico por fora das informações. Quando quero me atualizar, procuro uma fonte certeira que me dá não somente os fatos, como também uma analise completa com previsõesdas tendências futuras. Que dizer, me conta não somente quem está traçando quem, mas também quem está prestes a traçar ou ser traçado, a tal fase da azaração. Tudo isso seguido de prognósticos, comentários e previsões. Cardápio completo. Não vou revelar o nome desta fonte para não complicar.Caso o faça, quando precisar recorrer a ela, poderá fazer doce:
--Você não escreveu no blogger que sou fofoqueiro? Agora eu não conto.
E assim eu teria que gastar talvez uns preciosos 5, talvez 10 minutos para convencê-la a me dizer as novidades. E como às vezes estou com pressa, prefiro preservá-la e garantir a informação rápida.
Que os leitores não me levem a mal, estou falando de algo que não é exclusividade de São Francisco do Glória. Aqui em Muriaé, uma cidade com algo em torno de 90 mil habitantes, a coisa não é muito diferente. Quem quiser comprovar é só ir aparar o cabelo. Além do mais, uma pesquisarealizada nos Estados Unidos comprovou que o assunto que as pessoas mais gostam de falar é sobre a vida dos outros , ou seja, a popular fofoca. Se na terra do Tio Sam podem, porque nós, simples franciscanos não podemos?
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