domingo, 8 de abril de 2012

EM MATÉRIA DE APELIDOS

EM MATÉRIA DE APELIDOS

João Eduardo Ornelas

Apelidos quase todo mundo tem, quer seja um popularconhecido de todosquer seja algum íntimo usado pelo pessoal de casaOu quem sabe, um ainda mais especial usado apenas pelo cônjuge nos momentos mais românticos entre quatro paredes. Há os apelidos tradicionais, quase automáticoque certos nomes incitam: Francisco é Chico, Samuel é Samuca, José é , e assim por diante.
Quero, porém abordar neste textoum tipo de apelido peculiar de cidades pequenas como São Francisco do Glóriaque para melhor entendimento denomino  apelido-sobrenome, ou sobrenome-apelido, tanto faz. Este tipo de apelido consiste em adicionar ao nome da pessoa um outro que tantopode se referir à sua ocupação (ou quase)  como ao nome de seu pai, de sua mãe, de seu esposo ou esposa.
Exemplos do Jó, Toninho do Italiano, Irineu do Bahia, João da Amora, etc. Os que se referem à profissão podemos citar: Juquita Marceneiro, Juquinha Pedreiro Pedra e muitos outros. O curioso é que o apelido nem sempre se refere à real profissão exercida por seu portadorou atal profissão foi abandonada há tanto tempo e/ou exercida num período tão pequeno que se perde na memória das pessoas. O Sr. Geraldo Alfaiate por exemploera agricultor e delegado de roça. O Chico Professor é contador e funcionário público. O João Bombeiro é cambista do jogo de bicho. O Agostinho Sapateiro aposentou-se como servente do grupo. O Agenor Fiscal,  creio que tinha este nome por ter sido fiscal do IPTU. O João Padrenunca foi padre, sendo aliáscrente da AssembléiaMas os apelidos ficam, e as pessoas os pronunciam sem saber suas origensAfinal é o que menosimporta, pois se tornam nomes e nem nos damos conta do que representam, até que paremos para analisar. E  convenhamos, parar para analisar apelidos dos outros é coisa de quem tem tempo sobrando.
Há os apelidos-sobrenomes que são adquiridos das esposas ou do marido. Maria do Chico Mamão (ou Chico do  Ricardinho),  da Efigeninha, Maria do Edinho, etc. Alguns defendem  a tese de que aquele que manda mais impõe seu nome ao outro. Se o marido manda, diz-se Fulana doSicranomas se é a mulher quem dá as cartas diz-se Sicrano da FulanaMas não sei se procede, será? Que tal perguntar aos casais em questãoBom, é melhor largar pra são apenas detalhes. Vivemos numa sociedade machista e os maridos  poderiam se ofender. E afinalmanda quem pode e obedece quem tem juízo. E ninguém tem nada com isso.
Às vezes a pessoa tem um sobrenome-apelido quando solteiro e adquire outro após se casar. O que foi da Fiahoje é da Vera. O Mauro que  foi do  do Oscar, atualmente é da Neuza.
Por falar em Dona Fia, a única nora que conseguiu desbancá-la foi a Vera. Os demais filhos casados, mantiveram  o apelido-sobrenome de solteiros. O Chicão ainda é da Fia, e a Gilda é do Chicão. O Adenir é da Fiamas a Lílian não é do Adenir. É ainda do Bastião DiaNão se assuste, pois éassim mesmo que as pessoas pronunciam, e de preferência tudo juntoigual a endereço de Internetassim: Bastiãodia.
Pronúncia correta mesmocom todos os “esses” e “erres”, fica restrito às tradicionais professoras de Língua portuguesa, como a Ermelinda do  Manoel, ou a Maíldes do Pedro Nicolau. E por falar nisso, nosso amigo Tom Amaral foi o único genro do João Ricardo que não impôs seu nome àsua esposa. A Lídia, pelo que me consta, continua sendo do João Ricardo. Que vergonha hein Tom!
Uma que se mantém soberana a este respeito é a Dona Ruth. Continua invicta: Júlio da Ruth (a Lúcia é do Júlio), Marcelo da Ruth (pode ser que em Vieiras seja Marcelo da Eliete), Alexandre da Ruth (mas a Neide é da Leila) Eldinho da Ruth, etc. Dá-lhe Dona Ruth!
Um diálogo interessante que merece registro foi o ocorrido entre o Juquita que não é da Zilda, mas é o marceneiro e cujo nome verdadeiro é José, e a  Dona Jalira mãe do , o  da Jalira. Foi Assim:
-Quem é a senhora?
-Eu sou a mãe do .
-Qual ?
-O  meuuai. O que é genro do Filinho Pequenocasado com a Mariinha.
-Ah, a Senhora é mãe do  da Jalira?!
-Isso mesmoeu sou a Jalira.
Tem ainda apelido-sobrenome interessantíssimo como Mercadinho. O Lico tinha um mercado e por isso virou Lico do mercadinho e posteriormente Lico Mercadinho. O apelido se estendeu aos irmãos e sobrinhos que nunca tiveram mercadinho mas ficaram com o nome.
De forma idêntica surgiu o apelido-sobrenome Lojinha. Foi mais ou menos assim: O Waldir veio de São Pedro e montou uma pequena  loja ficando conhecido como Waldir da Lojinha. Depois veio o João seu irmão, se associou a ele e ganhou a mesma alcunhaEm pouco tempo, a lojinha virouloja, e hojeem termos de São Francisco, pode-se dizer até que virou Lojão. Mas o nome lojinha permanece. O que veio depois e montou a mercearia (antigamente era venda de secos e molhados), virou  da Lojinha. O Juarez, que veio por último, e nem sequer conheceu a antiga lojinha, também éconhecido como Juarez da Lojinha. Acho que até os irmãos que permaneceram em São Pedro e Madeira passaram a se chamar Lojinha. Assim surgiu a Família Lojinha.
E o gozado é quando o apelido-sobrenome se acumula, assim: Isabel da Maria Emília do Xadinho. Ou ainda, Marlone do  da Vera (E se quisermos alongar mais, a Vera é do Luiz Fava). Se bobear o troço vira uma bola de neve: Nayara da Sonia do Paulinho do Zito do João das Moças.
O Quito, tanto pode ser Mercadinho quanto da Romilda. Seu nome se fixou nos filhos do primeiro casamento, (Chico do Quito,  Leno do Quito e Eva do Quito), mas os do segundo, influenciou a mulher. O Freud é da Romilda, e o Quitinho é o Quitinho mesmo e prontoapesar da Romildainsistir em chamá-lo de Euclides.
Tico é do Jair e a Sandra é do Ticomas  foi da Pretaou ainda, do Chico da Preta. O Marcio é da Piu e a Piu é do Dé. O Bastião é da Lena e a Lena continua sendo do Cabo Gentilque por sua vez tem um apelido intimo, usado apenas pelos familiares: Tilá. Vá se entender porque.
E tem os casos de chumbo trocado: Mariinha do Mudo e Mudo da Mariinha. Por falar em Mudo, sabiam que ele aprendeu a falarPelo menos uma frase: É campeão! Êta torcida difícil de aturar essa  do VascoAté os mudos incomodam. (OBS: no tempo em que este texto foi escrito, o Vascoestava em altaAtualmentecom a fase negra, o Mudo está mais mudo do que nunca.)
ter o apelido-sobrenome do sogro viram? Os casos são rarosmas existem. Vou citar um: o Marcelo, natural de Vieiras, que  foi Marcelo do Posto (de saúde), casou-se com a Fabiane e desde então passou a ser chamado de Marcelo do Felício. Viram  que existe? Isto que dá, ser“noro” do Felício.
Eu por minha vez tive uma experiência inusitada quando fui candidato a vereador e tinha o direito de registrar até cinco nomes ou apelidos. Optei por registrar João, João Eduardo, João Eduardo Ornelas e João do Juquita. Durante a campanha, percebi que algumas pessoas se referiam amim como “menino do Juquita”, ou “Aquele menino do Juquita”.  eu me arrependi de não haver registrado também essas outras duas opçõesMas na fritada dos ovos deu tudo na mesmaNão fui eleito e não tive noticias de nenhuma cédula de votação com voto para um tal de “menino do Juquita”.
Mas em matéria de sobrenome-apelido fico tranqüilopois se por um lado não consegui impor minha marca sobre minha digníssima carametade, que ainda é a Adriana do Sô Gustim, por outro continuo com o nome de solteiro, sou ainda o João do Juquita, embora não seja mais menino. E tenho oconsolo de que alguns amigos mais chegados se referem à Adriana como “Adriana do Janjão”. Se alguém diz, “Janjão da Adriana”, não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe. Quero morrer na ignorânciaAfinalaqui em casa quem canta é o galoquer dizer, o Cruzeiroque galo comigo é napanela ou missamesmo assim  uma vez por ano. E olhe !
Pra encerrarmais uma do Juquita: Havia uma vizinha sua (que não vou citar o nomeconto o milagre mas não conto o santoque não parava de contar caso de sua lua de mel, se gabando e mostrando as fotosEra a terceira vez que a dita cuja mostrava o álbum de fotografias:
-Essas aqui são de Campos do Jordão.  é um lugar maravilhoso. O senhor conhece Campos do Jordão, Seu Juquita?
E o Seu Juquita, de mau humor e cansado de ver as fotografias decidiu apelar:
Não senhoraEu conheço a Sininha do Jordão, a Eva do Jordão, a Célia do Jordão, o Toimzeca do Jordão, e até o quintal do Jordão, mas Campos do Jordão ainda não tive a honra não.
Foi a senha para a vizinha cair na realtirar o time de campo e nunca mais mostrar as benditas fotografias.

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