domingo, 8 de abril de 2012

O FORAGIDO 2: O RETORNO

FORAGIDO II: O RETORNO
João Eduardo Ornelas
Como contei na historia anterior, o Helio Bombril após agredir o Sr. Geraldo Gomes, delegado da cidade, e ser preso pela polícia, fugiu da cadeia e foi para Ipatinga. (vide o Texto FORAGIDO)
 estava há algum tempo naquela simpática cidadequando recebeu um convite para a primeira festa do franciscano ausente. E agoraIr ou não ir à festaeis a questão. Será que ainda queriam prendê-lo? Será que o danado daquele tal de Cabo Gentil ainda estava na cidade ou havia sido transferido? Decidiu telefonar para os amigos a fim de saber da situação. Descobriu que não  o Cabo estava na área como não havia ainda digerido o episódio da fuga e andava doido para pegar o meliante.
Ipatinga é o eldorado onde muitos franciscanos escolheram para tentar a sorte, de forma que não é tarefa difícil topar com algum deles em qualquer esquina da cidade. Na ocasião, praticamente todos eles receberam convites para a tal festaEntre eles não se falava noutra coisa que sempre se encontravam, mesmo que sem querer. Estavam eufóricos planejando o passeio. O Bombril coitado, naquela agonia, babando de vontade de ir, e morrendo de medo de ser preso. Havia ainda aqueles sacanas como os filhos da Totônia Moreira que sabiam da situação e ficavam provocando-o, fazendo figa quanto à festa.
Num dado momentoHélio decidiu: iria de qualquer formaAfinal até quando se prolongaria aquela ladainhaOu vai ou racha, pensou. Iria à festa desse o que desse. Além do mais cadeia foi feita pra homem, e pronto. E se me prender hoje amanha  faz dois dias. Estava resolvido.
Naquela época a festa do Franciscano Ausente acontecia na praça São Francisco de Assis onde era montado um palco para Shows e as barracas de comes e bebes. Salvo engano acontecia de sexta a domingoHélio Bombril deixou para ir no sábadomas antes escalou alguém que forana sexta para sondar o terrenoSuas suspeitas se confirmaram quando o espião informou que os policiais  haviam indagado a alguns franciscanos ipatinguenses sobre seu paradeiroMesmo assim não mudou de planos, iria de qualquer jeito.
No sábado à tarde, o movimento  era grande no praça. Estava acontecendo a Rua do Recreioque consistia em atrações e brincadeiras para a criançada. As barracas  contavam com boa freqüência e vários cervejeiros ocupavam as mesas. A barraca Decolores, montada em prol daigrejaera a maior e a mais freqüentada, e àquela hora  estava praticamente cheiaEste foi o cenário que o Hélio Bombril encontrou quando chegou no recinto com os olhos arregalados.
Rapidamente a noticia correu. Hélio foi se esgueirando sorrateiramente pela calçada do Elton Ricardo,  que o movimento maior era do outro lado. Tentava se esconder atrás dos carros estacionados, das barracas dos camelôs, de olho nalguma porta ou portão aberto por onde pudesse se enfiar rapidamente caso o inimigo fosse avistado. Até mulher vestida de cáqui provocava-lhe terror. Estava com um envelope nas mãos e seu alvo era o Lili, o prefeito municipal.
Neste ínterim, o policiamento agora reforçado para a festa, liderado pelo mesmo temido Cabo Gentil  havia se cientificado da situação, e se espalhava na multidão para encontrar o foragido. Começou uma perseguição de gato e rato.
Héliocada vez mais assustado arregimentou alguns amigos que o ajudavam a camuflar a presença ao mesmo tempo em que tentavam localizar o prefeito havia se escondido por alguns instantes em várias residências. A primeira foi a do João Ricardo, onde entroudesabaladamente ao avistar um senhor vestido de bege que julgou ser um policial. Foi parar  na cozinha quase matando a cozinheira de sustoDepois disso fez via sacra respectivamente na casa do Seu Bahia, do Olegário Matta e do próprio Lili, que não se encontrava .
De repente chega a notícia de que o prefeito está na barraca Decolores. Hélio então acompanhado de quatro amigos que formaram um círculo à sua volta para tentar ocultá-lo, segue apreensivo para a tal barraca. Em meio à multidão, foi reconhecido pelas pessoas que lhe gritavam onome: 

---Ô Hélio.  tá sumido. Há quanto tempo heim? Cuidado com os homê. 
E o Hélio colocava o indicador na boca pedindo silencio: 
---Pssst, pssst. Tão querendo me fudê?

Quase chegando na barraca avistou o Cabo Gentil que vinha de ventas abertas na mesma direção, acompanhado do Paraíba e mais dois policiais. 

---Tenho que chegar primeiro, pensou o Hélio. 
E saiu desabalado atropelando as pessoas. Entrou na barraca, foi até a mesa do prefeito que estava acompanhado de políticos e autoridades, jogou-lhe o envelope no peito e disse: 
---Taí, eu vim por causa desse convite.  me convidou, agora me garante. Os homê tão vindo  pra me prendê.

A policia chegou, pegou um em cada braço do Hélio e o Cabo disse: 

---Precisamos ter uma conversinha. 
Então o Lili e as demais pessoas da mesa intervieram, dizendo que era festa, momento de paz e confraternização, que o que passou, passou, etc,etc. Depois de muita conversa, de pedidos de desculpas e promessas de mudança de comportamento chegaram a um acordo. Um dos políticospresente na mesa se comprometeu a conversar com o Sr. Geraldo, e convencê-lo a deixar barato. O Hélio por sua vez prometeu não fazer mais nenhuma gracinha, além de manter distancia da neta do homem.


Seu Gentil muito a contra gosto acabou concordando e ao se retirar disse: 
---Olha  em moço. Desta vez você se livrou, mas eu estou de olhoVocê está em observaçãodebaixo de ordemQualquer deslize te coloco na tranca
---Sim senhorsim senhor, respondeu o Hélio humilde
Quando os presentes viram que os policiais se retiravam sem levar o foragido, começaram a festejar com gritos e aplausos
---Calma gente, manera ai. Tão querendo me fudê, pô? Disse Hélio preocupado
Olhou para o Cabo que diante da manifestação havia parado e olhava de cara feia, e disse: 
---Tudo certim, Comandante
assim resolveu-se o impasseHélio curtiu a festa bem comportado,  que estava debaixo de ordem, o que não o impediu de, às bocas miúdas contar bravatas sobre o episódio
---Olha tão doidim pra me por as mãosmas eu tenho as costas quentes.


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