João Eduardo Ornelas
Ipatinga é o eldorado onde muitos franciscanos escolheram para tentar a sorte , de forma que não é tarefa difícil topar com algum deles em qualquer esquina da cidade . Na ocasião , praticamente todos eles receberam convites para a tal festa . Entre eles não se falava noutra coisa já que sempre se encontravam, mesmo que sem querer . Estavam eufóricos , já planejando o passeio . O Bombril coitado , naquela agonia , babando de vontade de ir , e morrendo de medo de ser preso . Havia ainda aqueles sacanas como os filhos da Totônia Moreira que sabiam da situação e ficavam provocando-o, fazendo figa quanto à festa .
Num dado momento , Hélio decidiu: iria de qualquer forma . Afinal até quando se prolongaria aquela ladainha ? Ou vai ou racha , pensou. Iria à festa desse o que desse. Além do mais cadeia foi feita pra homem , e pronto . E se me prender hoje amanha já faz dois dias . Estava resolvido.
Naquela época a festa do Franciscano Ausente acontecia na praça São Francisco de Assis onde era montado um palco para Shows e as barracas de comes e bebes. Salvo engano acontecia de sexta a domingo . Hélio Bombril deixou para ir no sábado , mas antes escalou alguém que fora na sexta para sondar o terreno . Suas suspeitas se confirmaram quando o espião informou que os policiais já haviam indagado a alguns franciscanos ipatinguenses sobre seu paradeiro . Mesmo assim não mudou de planos , iria de qualquer jeito .
No sábado à tarde , o movimento já era grande no praça . Estava acontecendo a Rua do Recreio , que consistia em atrações e brincadeiras para a criançada . As barracas já contavam com boa freqüência e vários cervejeiros ocupavam as mesas . A barraca Decolores, montada em prol daigreja , era a maior e a mais freqüentada, e àquela hora já estava praticamente cheia . Este foi o cenário que o Hélio Bombril encontrou quando chegou no recinto com os olhos arregalados.
Rapidamente a noticia correu. Hélio foi se esgueirando sorrateiramente pela calçada do Elton Ricardo, já que o movimento maior era do outro lado . Tentava se esconder atrás dos carros estacionados, das barracas dos camelôs , de olho nalguma porta ou portão aberto por onde pudesse se enfiar rapidamente caso o inimigo fosse avistado. Até mulher vestida de cáqui provocava-lhe terror . Estava com um envelope nas mãos e seu alvo era o Lili, o prefeito municipal.
Neste ínterim , o policiamento agora reforçado para a festa , liderado pelo mesmo temido Cabo Gentil já havia se cientificado da situação , e se espalhava na multidão para encontrar o foragido . Começou uma perseguição de gato e rato .
O Hélio , cada vez mais assustado arregimentou alguns amigos que o ajudavam a camuflar a presença ao mesmo tempo em que tentavam localizar o prefeito . Já havia se escondido por alguns instantes em várias residências . A primeira foi a do João Ricardo, onde entroudesabaladamente ao avistar um senhor vestido de bege que julgou ser um policial . Foi parar lá na cozinha quase matando a cozinheira de susto . Depois disso fez via sacra respectivamente na casa do Seu Bahia, do Olegário Matta e do próprio Lili, que não se encontrava lá .
De repente chega a notícia de que o prefeito está na barraca Decolores. Hélio então acompanhado de quatro amigos que formaram um círculo à sua volta para tentar ocultá-lo, segue apreensivo para a tal barraca . Em meio à multidão , foi reconhecido pelas pessoas que lhe gritavam onome :
---Ô Hélio . Cê tá sumido. Há quanto tempo heim? Cuidado com os homê.
E o Hélio colocava o indicador na boca pedindo silencio:
---Pssst, pssst. Tão querendo me fudê?
---Tenho que chegar primeiro , pensou o Hélio .
E saiu desabalado atropelando as pessoas . Entrou na barraca , foi até a mesa do prefeito que estava acompanhado de políticos e autoridades , jogou-lhe o envelope no peito e disse:
---Taí, eu vim por causa desse convite . Cê me convidou, agora me garante. Os homê tão vindo aí pra me prendê.
A policia chegou, pegou um em cada braço do Hélio e o Cabo disse:
---Precisamos ter uma conversinha.
---Olha lá em moço . Desta vez você se livrou, mas eu estou de olho . Você está em observação , debaixo de ordem . Qualquer deslize te coloco na tranca .
---Sim senhor , sim senhor , respondeu o Hélio humilde .
---Calma gente , manera ai. Tão querendo me fudê, pô? Disse Hélio preocupado .
Olhou para o Cabo que diante da manifestação havia parado e olhava de cara feia , e disse:
---Tudo certim, Comandante .
E assim resolveu-se o impasse . Hélio curtiu a festa bem comportado, já que estava debaixo de ordem , o que não o impediu de, às bocas miúdas contar bravatas sobre o episódio :
---Olha lá , tão doidim pra me por as mãos , mas eu tenho as costas quentes .
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