domingo, 8 de abril de 2012

JUIZ DE PAZ

JUIZ DE PAZ
João Eduardo Ornelas
trabalho de Juiz de Paz em cidades pequenas sempre rendeu bons causos. Na celebração de casamentosvira e mexe acontece alguma gafe digna de ser contada. Em São Francisco do Glória o cargo foi ocupado por muitos anos pelo Sr. José Biciate, pessoa muito calma, educada e simples. Peço aqui aos leitores que não confundam simplicidade com ingenuidade ou matutice. Refiro-me à habilidade de lidar com pessoas humildes e de pouca instruçãosem causar-lhes constrangimentos. Considero esta uma qualidade rara e admirávelSeu  Biciate possuía esse domEra antes de tudohabilidoso e agradável no trato com as pessoas e também muito discreto. Os fatos que conto a seguir devemos às narrativas de seu parceiro de cerimônias, o tabelião Júlio da Ruth.
Certa vez num casamentocomo de praxe Seu  Biciate perguntou ao noivo
---Sr Fulano, é de sua livre e espontânea vontade que aceita Cicrana de Tal como sua esposa
cara não entendeu nada da pergunta, provavelmente confundido com a palavra espontâneaque não lhe era comumDiante da dúvida perguntou ao Seu 
---O que é que eu respondo? 
Seu  na maior naturalidade
---Sei quem vai encarar ela é vocênão sou euVocê que tem de saber onde é que tá entrando. 
Noutra oportunidadequando chegou na mesma pergunta fatídica aconteceu algo ainda mais engraçado
---Sr Fulano, é de sua livre e espontânea vontade que aceita Cicrana de Tal como sua esposa
noivo respondeu: 
---Tem que sê, pu qui ó. 
Seu  não entendeu nada
---Tem que ser não, a coisa deve ser espontânea, vou repetir a pergunta. Sr Fulano, é de sua livre e espontânea vontade que aceita Cicrana de Tal como sua esposa
---Tem que aceitar, pu qui ó, pu qui ó. 
---Mas que negócio é esse de pu qui ó? Perguntou o Juiz de Paz.

Nesse momento, atendendo a um sinal que o noivo fez discretamente com a cabeçaSeu  Biciate olhou meio de lado por debaixo da mesa. Viu então que o rapaz estava fazendo um gesto que consistia em bater com a mão esquerda espalmada sobre o topo da mão direita fechada, enquantorepetia baixinho: 
--Pu qui ó, pu qui ó.

 ficou claro para Seu  Biciate que o dito cujo havia saboreado a merenda antes da hora tinha comido da couve e estava sendo pressionado para casar
---Nesse caso meu filhovocê tem razão, tem que sê mesmoEsse tal de pu qui ó é muito sério de modo que nos vamos tocar a cerimônia pra diante
Desnecessário explicar que o grande obstáculo à continuidade da cerimônia a partir dali seria o riso incontrolável do tabelião Júlio da Ruth.

 

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