sexta-feira, 23 de março de 2012

ERA UMA PARADA

ERA UMA PARADA!
 João Eduardo Ornelas
 O desfile ocorrido no dia 13/12/04, aniversário da cidade foi muito bonito. Foi também emocionante sobretudo porque despertou nos presentes as lembranças da época em que todo dia 7 de setembro e toda festa de franciscano ausente havia desfilesTalvez por nostalgia daqueles temposalgumas pessoas ficaram com os olhos molhados, tentando discretamente disfarçar a emoção.
 Os desfiles no dia da independência eram obrigatórios, uma exigência naqueles anos de militarismo. Ensaiávamos com bastante antecedência, sendo monitorados pelos professores e pelos policiais da cidade. Desde a primeira série participei desses eventos pois uma falta somente erajustificada com atestado médico, do contrário seria punição na certa. Participávamos à contra-gosto, e o único estimulo que tínhamos era o pão com molho e suco servidos após o desfile. 


            Minhas participações foram em várias circunstâncias, algumas bastante vexatórias, diga-se de passagem.  carreguei cartazes, bandeira, e outras coisas difíceis de acreditar. Uma vez desfilei homenageando o Emerson Fittipaldi, carregando um carrinho de Fórmula Um que era do Renato da Dona Maria Emilia, a diretora da escola. Meus braços chegaram a ficar dormentes de tanto ficar na mesma posição.

 Houve um ano em que eu estava com os dedos dos pés arrebentados devido ao futebol e como não podia calçar, pensei que seria liberado do desfileQue nada, a danada da Dona Maria Emilia me colocou desfilar vestido de Padre Jesuíta. Vestiu-me com uma capa preta dessas usadas peloscavaleiros de antigamente (pesada e quente) e com um chapéu de lebre também preto. Entregou-me um livro de capa dura simbolizando a Bíblia, o qual eu deveria simular estar lendo enquanto caminhava. Quis argumentar dizendo que seria impossível caminharsimular leitura e não arrebentarnovamente os dedos nalguma pedra salientemas ela não deu ouvidos. À minha frente um outro aluno carregava um cartaz com os dizeres: E CHEGARAM OS JESUÍTASQuando no desfile do dia 13 vi os meninos vestidos de São Francisco de Assis usando túnicas levinhas feitas de um materialdescartávelnão pude deixar de pensar em como os tempos mudaram e tudo está mis prático
 Minha situação nesse dia era lastimável, mas para meu consolo havia alguém em condição pior. Um aluno vinha mais atrás vestido de Tiradentes. Tudo bem, se ele não estivesse ridículo com uma corda no pescoço e uma peruca que era emprestada da imagem de uma Santa da igreja. Se bem melembro era a peruca da imagem de Nossa Senhora das Dores que foi fabricada com os cabelos do Julio do Chiquinho Patrocínio. Tal fato se deu em cumprindo a uma promessa feita pela Dona Edite, sua mãe, para que ele se livrasse de uma meningite na infância. Caso ele se curasse, como ocorreu, deixaria seus cabelos crescerem por não sei quantos anos até que fosse possível fabricar a tal peruca. 


Pois bem, imaginem como coçava a cabeça deste pobre aluno, usando aquela peruca grosseiramente fabricada, debaixo de um sol de lascar. Avaliem também os risos e os deboches que ele vinha enfrentando desde que o desfile saiu do colégio rumo ao centro da cidade. Sempre que eu meaborrecia com o calor e o peso da capa, dava uma olhadinha para trás, disfarçava o riso para não comprar briga, e me conformava com minha situação. 


A gozação pra cima do Tiradentes era enorme e aumentava à medida que o desfile se aproximava do centro e o número de assistentes era maior. O coitado  havia mandado alguns à p.q.p. e outros tantos tomar naquele lugar. Quando virou a esquina do  do Oscar e viu a multidão que se aglomerava ao longo da Rua Coronel Brandão, não teve mais dúvidas: arrancou a peruca da cabeça e a corda do pescoço, e fincou de galope pela Rua do Cemitério acima,  parando quando chegou em casa. 


Outro vexame marcante foi a homenagem feita à Policia Militar e pra variar eu estava participando. Deveríamos desfilar atrás da banda do batalhão segurando as letras formando os dizeres PM AMIGO LEGAL, e em frente ao palanque levantaríamos as placas e gritaríamos o slogan. Ensaiamos semanas a uma velocidade de tartaruga, e quando fomos desfilar atrás da banda, ela arrancou à velocidade de um leopardo. Foi o mesmo que querer acompanhar a Ferrari do Shumacher com um Fusquinha 1200. Quando chegamos em frente ao palanque, não sabíamos mais o que eraalinhamento e nem tínhamos mais fôlego para gritar o slogan. O máximo que conseguimos foi soltar alguns gemidos e uivos. Vexame total. 


As alas do desfile que mais faziam sucesso além da bateria eram as balizas e a ginástica rítmica, ambas compostas pelas meninas mais bonitas da cidade vestindo roupas sensuaisPelo menos pensávamos assim na épocaQuanto a nóssimples mortais éramos coadjuvantes de um espetáculosimplesmas que marcou época e deixou saudades.
Imagens relacionadas:

Nenhum comentário:

Postar um comentário