João Eduardo Ornelas
O desfile ocorrido no dia 13/12/04, aniversário da cidade foi muito bonito . Foi também emocionante sobretudo porque despertou nos presentes as lembranças da época em que todo dia 7 de setembro e toda festa de franciscano ausente havia desfiles . Talvez por nostalgia daqueles tempos algumas pessoas ficaram com os olhos molhados , tentando discretamente disfarçar a emoção .
Os desfiles no dia da independência eram obrigatórios , uma exigência naqueles anos de militarismo . Ensaiávamos com bastante antecedência , sendo monitorados pelos professores e pelos policiais da cidade . Desde a primeira série participei desses eventos pois uma falta somente era justificada com atestado médico , do contrário seria punição na certa . Participávamos à contra-gosto, e o único estimulo que tínhamos era o pão com molho e suco servidos após o desfile .
Houve um ano em que eu estava com os dedos dos pés arrebentados devido ao futebol e como não podia calçar , pensei que seria liberado do desfile . Que nada , a danada da Dona Maria Emilia me colocou desfilar vestido de Padre Jesuíta . Vestiu-me com uma capa preta dessas usadas pelos cavaleiros de antigamente (pesada e quente ) e com um chapéu de lebre também preto . Entregou-me um livro de capa dura simbolizando a Bíblia , o qual eu deveria simular estar lendo enquanto caminhava. Quis argumentar dizendo que seria impossível caminhar , simular leitura e não arrebentar novamente os dedos nalguma pedra saliente , mas ela não deu ouvidos . À minha frente um outro aluno carregava um cartaz com os dizeres : E CHEGARAM OS JESUÍTAS . Quando no desfile do dia 13 vi os meninos vestidos de São Francisco de Assis usando túnicas levinhas feitas de um material descartável , não pude deixar de pensar em como os tempos mudaram e tudo está mis prático
A gozação pra cima do Tiradentes era enorme e aumentava à medida que o desfile se aproximava do centro e o número de assistentes era maior . O coitado já havia mandado alguns à p.q.p. e outros tantos tomar naquele lugar . Quando virou a esquina do Zé do Oscar e viu a multidão que se aglomerava ao longo da Rua Coronel Brandão, não teve mais dúvidas : arrancou a peruca da cabeça e a corda do pescoço , e fincou de galope pela Rua do Cemitério acima , só parando quando chegou em casa .
As alas do desfile que mais faziam sucesso além da bateria eram as balizas e a ginástica rítmica, ambas compostas pelas meninas mais bonitas da cidade vestindo roupas sensuais . Pelo menos pensávamos assim na época . Quanto a nós , simples mortais éramos coadjuvantes de um espetáculo simples , mas que marcou época e deixou saudades .
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