sexta-feira, 23 de março de 2012

COMERCIO DE MEL

DECEPÇÃO COM O COMERCIO DE MEL 08/01/2004
João Eduardo Ornelas
 do Oscar sempre teve fama de careiro, e nunca se preocupou em mudar sua imagem. Quando alguém o provoca dizendo ser um absurdo um pedaço de doce que mais parece um torrão de açúcar custar tão caro responde mais ou menos assim: 
---Não é obrigado comprar não. Mesmo porque deixa o doce quietinho  , que outro vem e compra.

Uma de suas marcas registradas é inserir as palavras mesmo porque, em quase todas as frases que diz. 
Alguém reclama de um produto que noutro comercio é bem mais barato e o  se defende. 
---Uma coisa que todo mundo gosta é de comprar barato e vender caro, e eu não sou diferente. Mesmo porque compra quem quer. Quando acabar o de , eles vêm buscar aqui. Mesmo porque mais cedo ou mais tarde todo mundo vende e dá tudo certo.

Esta filosofia de vida certamente foi a grande culpada pelo fato de certa vez o  cair no conto do vigário. Foi o seguinte, numa segunda-feira apareceu no seu bar um cidadão desconhecidosimpático e bem apessoado. Tomou o café com leite, comeu a tradicional brevidade, elogioubastante o sabor e achou o preço barato. Desnecessário dizer que o dono do estabelecimento logo se rendeu aos irresistíveis encantos do novo freguês.
forasteiro então se anunciou como comprador de mel. Disse estar à procura de produtos de qualidade e que pagava 10 reais (valor hipotéticoem dinheiro vivo por cada litro de melGentilmente pediu ao  do Oscar que conseguisse algum mel para ele sendo que estava disposto apagar até uma comissão pelo favor. Deixou um cartão e despediu-se dizendo que passaria novamente na sexta-feira.
Na quarta-feira chega na venda do  um senhor com 50 litros de mel, dizendo-se produtor residente no município de Miradouro. Estava vendendo a 7 reais o litro e disposto a fazer um preço mais em conta para quantidade maiorpois estava com um familiar doente e precisava fazerdinheiro rápido. O  então se lembrou do simpático comprador e cresceu o olhoEra muita sorte aparecer aquele vendedor justo naquela semana. Entrou em negociação conseguindo baixar o preço para 5 reais logo de caraDepois de insistir mais um pouco adquiriu todo o estoque a 4 reais olitro pagando em dinheiro vivoexigência do vendedor para tão grande desconto.
Satisfeito com o lucro expressivo e fácil que teria, colocou os litros na prateleira da vendaNão entendia muito de melmas aquele senhor simples e humildecom jeito de matuto honesto não iria enganá-lo. Além do mais o produto era tão artesanal que os litros estavam tampados comsabugos de milhocertamente seria mel silvestre de primeiríssima qualidade. Ficou aguardando o comprador vir na sexta-feira, e  pensando em jogar a conversa para vender mais caro. Acontece que passou a sexta, passou o sábado e nada. O  começou a desconfiar e a indagar-se se haviaentendido direitopoderia ser na próxima sextaMas passou outra sexta, e mais outra e nada de comprador. Passou até a sexta-feira da paixão e o mel ainda na prateleira.
Quando enfim se convenceu de que havia caído no golpe o  tentou se desfazer do mel com um apicultor da cidadeEste porém ao examinar o produto constatou tratar-se melado de açúcar sem nenhum valor comercial. O  então envergonhado contou toda a história pedindo segredopara evitar chacotas. O apicultor muito sacana,  contou para os meninos da escolapara os torcedores do Jacaré e para os torcedores do Operário.
No outro dia então começou a romaria na venda do . A cada meia hora aparecia alguém fazendo alguma brincadeira: 
---É aqui que mora um comerciante de mel? Eu tenho pra vender. 
---Ô seu , pra quanto tá o litro de melado? 
---Como é que está o comercio de mel, tá aquecido?

No inicio o  ficava p. da vida. Na época ele era ainda meio rabugento. Mas percebeu logo que não havia outra solução a não ser entrar na brincadeira. Foi o que ele fez. 
E quando algum gozador aparecia na venda, antes que dissesse qualquer coisa o  antecipava sorridente: 
---Quer comprar melado? Tá em promoção. 

Todos os amigos sem exceção torcem pelo restabelecimento do amigo  do Oscar e aguardam ansiosos o seu retorno ao bate-papo da esquina, onde ele é sempre lembrado com carinho. 

Boa sorte  do Oscar.

OBS: este texto foi publicado em 08/01/2004. No mês de Março de 2005, Zé do Oscar faleceu na cidade de Muriaé em decorrência de sua enfermidade.  Que descanse em paz!

ZÉ DO OSCAR E SR. GENTIL
 

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